Nos últimos anos temos visto uma guerra atingir a indústria do entretenimento: de um lado temos os conservadores, que adoram heróis como o nosso querido Conan, que sozinho destrói tudo a sua frente e tem todas as mocinhas em suas mãos. Nesse segmento também citamos todos os heróis e os brucutus do cinema, cafagestes e porradeiros, representados atualmente pelo time dos Mercenários. No outro lado da guerra temos a turma moderna, que estão fazendo filmes como Mad Max, onde as mulheres tem extremo poder físico e político, superando até mesmo o personagem principal da trama e suas limitações fisiológicas naturais, além de outros com crianças que mesclam habilidade e sabedoria extrema a ponto de libertarem seus reinos dos tiranos, etc. Ou seja na necessidade de combater os exageros de um lado o outro lado exagera de uma forma mais improvável ainda.
E quem sai perdendo? Os espectadores que perdem a qualidade das produções por conta delas se tornarem armas dessa guerra, e os universos fechados começam a perder o sentido e ganhar novas regras.
Só que no universo de George R R Martin, as coisas são bem diferentes. Nessa saga acompanhamos a hegemonia de poderosas mulheres, personagens femininas que estão em um feroz embate para decidir o destino dos 7 reinos de Westeros.
A evolução
O interessante nesse mundo fantástico é que assistir a evolução dessas mulheres, pois mesmo Daenerys Targarien, que nasceu herdeira do sangue do Dragão, teve no início de sua vida grandes provações, infortúnios e dificuldades (no primeiro livro é tratada como uma mercadoria pelo irmão, que a vende a uma tribo de selvagens em troca de apoio para iniciar uma guerra contra o rei que matou seu pai). Já Cersei Lannister e Sansa Stark tem suas origens parecidas: nascidas em famílias nobres, criadas para serem esposas perfeitas de príncipes e reis elas descobriram da pior forma possível que o príncipe encantado pode não cheirar tão bem quanto ouviam nas historias que suas amas de leite contavam na infância. Ambas tiveram que sobreviver a um ambiente em que elas seriam só mais um objeto da casa ou a mulher que geraria herdeiros ao seu senhor. A evolução delas é impressionante, mas totalmente factível: Sansa é obrigada a crescer rápido demais e mesmo após sofrer horríveis abusos de seu “marido” consegue se manter firme e retornar a cena como uma verdadeira mulher Stark, liderando um exército contra as forças que ocuparam seu lar na sua ausência e Cersei passa de uma mulher submissa e infeliz a uma poderosa rainha estrategista que traça seus próprios caminhos e é impiedosa com quem entra em seu caminho.
As guerreiras
Também podemos falar de Brienne de Tarth e de Arya Stark. Ambas são mulheres guerreiras, que tem um domínio da espada, mas o escritor fez questão de armá-las de acordo com seu porte físico: Brienne é uma mulher grande, e consegue lutar com armadura e uma espada próxima do tamanho de uma “espada de duas mãos”, já Arya é uma menina pequena por isso tem ao seu lado sua igualmente pequena espada “Agulha” e suas habilidades são mais próximas a de uma ginasta, mas mortais da mesma forma. Imagino que se fosse em alguma outra obra, Arya seria uma guerreira que poderia até vencer Jaime Lannister tanto em habilidade como em força, como vemos em muitos filmes e livros que estão disponiveis por ai, que realmente forçam a barra.
A prodígio
Ainda citando as mulheres, outro exemplo interessante é a jovem Lyanna Mormont, prima de Sor Jorah Mormont e filha mais nova de Maege Mormont. Maege assumiu o comando da Ilha dos Ursos após seu sobrinho Jorah fugir para o exílio para não ser morto por Ned Stark ou Robert Baratheon (ou ser fatiado em partes iguais pelos dois). Com o início da guerra tanto Maege quanto as irmãs maiores de Lyanna desaparecem em campo de batalha ficando a regência do reino em suas mãos. Mesmo com 10 anos ela mostra que tem a ferocidade dos ursos de sua família, conduzindo a trama com discursos calorosos e mão de ferro.
No livro “a dança dos dragões” quando Lyanna recebe um corvo do rei Stannis Baratheon lhe cobrando vassalagem ela responde com uma carta a altura:
— A Ilha dos Ursos não conhece nenhum rei, exceto o Rei no Norte, cujo nome é Stark.
Note que ela só tem 10 anos e por isso não vai a frente do campo de batalha com armas, cavalos ou poderes especiais, ela usa as armas que tem: nome, ousadia e inteligência, para jogar a “guerra dos tronos” e se sai muito bem, apesar de perder a sua infância nessa jornada.
Com tantos exemplos de mulheres de peso vemos que Game of Thrones é uma obra que mesmo ambientada em um mundo de magia e fantasia preza pelo factível e consegue desenvolver os personagens de forma justa e muita das vezes visceral. Felizmente no fim da trama o jogo vai ficar entre Cersei, Daenerys e Sansa pois provavelmente Jon Snow vai cumprir a profecia e irá para o extremo do continente enfrentar o Rei do Norte e seu exército de zumbis, se proclamando o protetor do Norte.
Cada uma a seu jeito e, sem forçar nenhum tipo de barra, elas se tornaram as mulheres mais poderosas de Westeros.